31 de dezembro de 2007

Prosa Hermética 2007

Fui escravo, autômato e abismo. Fui não sendo... não sabendo ser. “Sê” dois para ser nenhum. Servi ás engrenagens, mas não produzi. Troféu do sistema, vergonha particular. Fiz 1/3 do que devia fazer. Apenas um capítulo não preenche minha despedida. Despedir-me? Tão falso e dramático que não vale sequer o esquecimento. Meus sonos estão no sul, nas paredes imagens tortas (duas jovens e um desmemoriado intencional); nas paredes molduras ocas; nas paredes estou eu (afixado ao alumínio, repartido e fragmentado). Conheci alguns vocês. Outros vocês foram negligenciados. Estou aprendendo a reparti-me em outros vocês. Mas ainda sou apenas um eu hermético. Quero um outro você, e até arrisco-me entregando braceletes, mas não sei se valho a pena. Não sou bom de sinopse, resumo, síntese... Sou na verdade um elemento complicador de qualquer simples fábula... Mas serei honesto o quanto conseguir: Quero chegar aos lugares que prometi ir. Quero pular nos abismos que eu mesmo construí e com a queda despojar-me das defesas contra o fundo dos abismos. Eu sei que foi apenas outro ano, sei que querer não é o suficiente, é preciso obsessão, na melhor das possibilidades que estrelas explodidas irradiem sua energia, e novamente (em função das estrelas) eu tenha forças para manter-me acordado durante 12 horas (sem sequer ter sono e mantendo a empolgação) logo após uma noitada chuvosa assistindo aos Los Hermanos. Frases longas só fazem sentido para quem conhece o contexto errado. Acabo cansado dos contextos corretos. Eu decidi viver aquilo que todos vivem, achei que seria educativo (e não teria como não ser). Ok eu já entendi bastante. Pessoas são apenas pessoas, mesmo quando são de plástico, mesmo quando evitam respirar, mesmo quando infinitas de redundâncias, mesmo quando simplórias, simpáticas e mascaradas... Pessoas são apenas pessoas. E isso é bem difícil de perceber. Não é o que a educação ocidental nos condiciona a ver.
Foi só mais um ano, e eu não tenho super-poderes, não vivi grandes paixões, não fiz nada para ser especial. Pois até este que vejo no espelho é apenas uma pessoa, coisa que só percebeu quando sorriu para um céu cinza e sem perspectivas. O primeiro dia sempre chegará, e talvez um dia eu perceba o que existe de especial nisto e nas pessoas.

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