25 de março de 2007

Prosa hermética 7


Eu não sou um vendedor. Nem sequer um crupiê. Gosto mesmo é do jogar. Sem sequer querer ganhar. Esperando pra perder. O problema é que a vitória frustra. O melhor é o meio do caminho. O processo eleva a alma, o resulto desnivela o sonho. Nada é como o sonhado. A derrota tem mais emoção. Mais angústia e, talvez até, mais satisfação. Perder é bom. Perder é dom. Fortalece a alma e intensifica o tom. È dolorosa a sensação de falso gozo poder. Chegar e não ser. Estar e ter mais pra onde ir. Ter. Voltar e só. Toda alma precisa de um vício. Como aquele que quis ser assim. Jogador de rima pobre. Escrevedor de idéia torta. Entendedor de sentença morta. Embaralhador de sentimento virgulador. Distribuidor de vocábulos não pertencentes. Pertencedor do próximo lugar. Ponto final. Inicio da próxima oração. Se seu pensamento é gramatical. Perde-se todo o sentido. O não-dito está exposto. E não é pra entender. Eu não sou um crupiê. Nem sequer um vendedor. Gosto mesmo é de ganhar. Sem sequer saber jogar. Perdendo por esperar. Ponto final e lugar certo.
Erro.

2 comentários:

Bárbara (B.) disse...

Adoro essas prosas herméticas, simplesmente fantástica. Não trocaria uma vírgula, nem tiraria um ponto sequer.

Bárbara (B.) disse...

Engraçado, tenho a mesma sensação quando leio teus escritos. Parece que me olho em um espelho.